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«In a gentle way, you can shake the world.» Mahatma Gandhi
- "Pinókio?! Não sei explicar … mas Pinókio … . Bem sei que Piu, Nikita … mas Pinókio. Não o consigo tratar por esse nome, Rita. Não está com nada!"
- "Ainda se fosse Geppetto", ripostou logo a Rita. "Vais ver! Ele é super inteligente".
Foi logo depois do primeiro jantar, já em Maputo, que tivemos esta conversa e, a Rita e eu, tomámos logo uma decisão. Para nós seria "O Comandante".
Ainda ouvimos umas bocas nos primeiros dias: “Comandante? Ele é o Pinókio! Nós somos todos comandantes! Também lhe chamam Cocuana*, se gostarem mais!”
Mas nós já tínhamos decidido e para nós era "O Comandante" e assim foi, e é, e será.
O avião do Comandante era muito concorrido. Todos os que não pilotavam queriam voar com ele. Fui esperando, esperando e em Pemba lá chegou a minha vez. A partir daí colei-me como uma lapa, e nunca mais de lá saí.
Voei com o Comandante – o nosso call-sign para o piloto Pedro Gaivão, entre Pemba e Maputo. Foram no total 12 pernas, na companhia da Rita, depois da Leonor e na última perna com o Alfredo e a Leonor.
Naquele avião tudo era diferente. Começando pelo painel frontal, que parecia ser de madeira exótica, num tom castanho-escuro.
O GPS também devia ser muito bom!
O Comandante lá ia seguindo a rota, movendo o ecrã táctil e partilhando tudo connosco - o nome dos rios, das terriolas, das pistas que iam aparecendo, alguma curiosidade sobre a zona, sobre outros voos que por ali tinha feito.
Falou-nos da família, dos tempos em que pilotava helicópteros por aquelas geografias, de como era fácil parar o helicóptero na praia, dar um mergulho e continuar viagem. Era o piloto que mais falava connosco e não só sobre aviação. E nós deliciadas. Pois o Comandante é um gentleman. Se fosse britânico já seria um Sir, de certeza.
Mas não pensem que falávamos muito dentro do avião. Estávamos ali para voar!
E o Comandante gosta muito, muito de voar.
Ele eram rapadas, formações arrojadas, mas sempre com muita preocupação para não assustar as populações, descolagens e aterragens para filme e as dicas preciosas para os outros pilotos, fundamentais em todas as situações de emergência que tivemos.
O Comandante foi sempre exemplar nas comunicações com as torres de controlo, nos diferentes aeroportos, mas também nos contactos com as populações.
O líder da comunidade de Kwai River recebeu-nos quando visitámos a escola. À nossa chegada esticou logo a mão, numa direcção precisa. Ia cumprimentar um de nós, em representação de todo o grupo. Claro está. O eleito só podia ser o nosso Comandante Cocuana.
Foi o melhor guia que pudemos ter durante a expedição. O Comandante é um Africano e foi Maningue Nice** voar com ele.
* Termo de respeito para com pessoas mais velhas. Do ronga kokwana. Dicionário Porto Editora online
** Se não conhece a expressão, recomenda-se viajar para Moçambique ou conviver com Moçambicanos, com alguma urgência
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