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«A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem.» Oscar Niemeyer.
Já voava com o Venice antes da expedição ter chegado a África. Mas só em sonhos.
Durante algumas semanas, na fase da preparação, todos os dias falávamos por telefone e quase sempre mais que uma vez. Os horários não eram os mais recomendáveis. Sete da manhã, meia-noite, uma da manhã. No meio da conversa o Venice lá me ia dizendo - "É pá, já fui e vim a São Vicente e amanhã vou a Paris, logo cedinho, tratem lá disso". Ou - "vou sair de Londres agora e vou dormir a Munique, esta noite, mandem-me as propostas por e-mail". Eu pensava cá para mim, sim, sim eu também fui e vim a Alcântara, e de Volvo de cor amarela, e antes ainda deu para passar no Chiado.
E quando dei por mim já estávamos em Maputo, quase prontos para descolar. E foi logo aí que tive a certeza que não ia voar com o Venice.
Tínhamos todas as autorizações para partir. Começou a azáfama de preparar os aviões, carregar materiais, andávamos todos a mil e o Venice ainda estava às voltas com os vinis, que colocávamos a cada etapa. Lá fui ver se podia dar uma mão, mas o problema é que a risca azul do avião tinha que ficar alinhada com a terminação do azul do logo porque a estética e … desisti.
O Venice é um Artista! E intui que aquilo era mais do que um avião. Seria um camarim ou um palco para aqueles concertos intimistas, só para a comunicação social ou para amigos. O meu lugar não era ali.
Afinal sou Benfiquista e por isso represento o povo!
Arranjei-lhe logo um refrão:
Eh – sexy lady oh, oh, oh, oh é o Venice a voar com Style (ritmo de Gangnam style. Com coreografia e tudo)
Pensei no The Artist que agora é Prince outra vez, e não havia dúvida. O Venice era a Estrela da Companhia.
Não! Não, não tou a falar em sapatinho de salto alto e em fatinhos cintados com lantejoulas. O Venice é bushpilot e sabia onde estava.
Estava sempre bem. De botifarras todo o terreno, calçãozinho à maneira, com o seu casaco soviético e o seu chapéu africano.
Quando entrava no camarim, o chapéu transformava-se num lenço, ora vermelho, ora preto, com uns floreados, assim amarrado à cabeça tipo Rock Star.
Repetir Refrão, por favor:
Eh – sexy lady oh, oh, oh, oh é o Venice a voar com Style (ritmo de Gangnam style. Com coreografia e tudo)
O Venice é baterista mas não sei se é disso que ele gosta. Durante a viagem senti-o várias vezes a aquecer a voz:
Oh Nikitaaaaaaaaaaaaaa, oh Misterrrrrrrrrrrrrrrrrr, Ólha ó Statussssssss e nós, nos outros aviões, que não podíamos tirar os headsets lá íamos reduzido o volume.
Só mais tarde entendi que era por uma boa causa, pois deu um concerto para o povo.
O reportório é que não foi grande coisa.
Ouvi logo, em back vocals, o comentário preferido da minha sobrinha Carolina: “Tia, prá malta da tua geração parece que depois dos anos 80 e 90 a música acabou. Dééé. Actualizem-se”
Foi um crime! A paisagem era deslumbrante e requeria uma música Africana que o Venice também ouve.
Mas por artes de magia, talvez africana, aconteceu um Déjà vu.
Começámos a mandar garrafas e copos para o palco, tudo isto mentalmente, e o Axel, desculpem, o Venice saiu de cena. Uff que sossego.
O nosso Artista também tinha uma mascote. Mas sobre o Honey Badger não quero dizer muito, pois quando o vi já estava embalsamado e colocado numa vitrina de museu.
No Alto Molócuè, o nosso Artista teve finalmente um banho de multidão. Na verdade teve ele e os outros treze, mas isso agora não importa.
É que o Venice a falar com as multidões não desilude. Faz-nos sonhar e afinal é o sonho que comanda a vida.
Artista esta é para ti:
«A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.» Charlie Chaplin
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